O mundo além de sua loja de belchior
Machado de Assis, em “Ideias de canário”, traz a história de um canário que surpreende um homem, que o encontra na gaiola, tanto porque fala, como por sua singular ideia do mundo.
Quando descobre que a ave fala, o homem pergunta se o dono da loja de antiguidades, onde estava sua gaiola, era seu dono.
Ofendido, o canário diz que aquele homem é seu criado: “dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco”. Segundo ele, “mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara” e “o canário é o senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca.” ¹
A violência da política
Trata-se de um lugar comum dizer que vivemos um fla-flu político. A expressão, trazida do futebol, revela o clima de polarização em que vivemos, com a quase extinção da possibilidade de diálogo.
O que tem prevalecido neste momento é o maniqueísmo do debate político, caracterizado pelo uso de expressões que apenas revelam o primitivismo de quem as usa. Aquele que foi contra o impeachment, coloca em seus adversários a alcunha de fascista, reaça, golpista e — singular infantilidade — coxinha. Por sua vez, quem foi favorável ao impeachment, chama os demais de comunista, bolivariano, corrupto e — não menos infantil — petralha.
Incesto: no Brasil é crime?
A notícia de um relacionamento amoroso entre Monica Mares e Caleb Peterson, mãe e filho, no estado americano do Novo México, traz à tona um tabu de todas as sociedades: o incesto.
Ao contrário do que se imagina, há enorme variação nas sociedades, no que se refere à proibição de condutas. Há inúmeros comportamentos que, tidos em nossa sociedade como inaceitáveis, foram permitidos em outras sociedades. Vejam-se os exemplos do infanticídio e da castração. Em certas tribos indígenas no Brasil o infanticídio é algo socialmente aceito. Na Itália dos séculos XVI ao XIX, a castração era feita em adolescentes, para que cantassem como mulheres, que eram proibidas nos coros dos mosteiros. Para nós, as duas práticas soam como abomináveis.
O incesto é uma exceção, pois, na antropologia se reconhece a “quase universalidade do princípio da proibição do incesto” (Norbert Rouland).