“um monstro de coração tão perverso e corrompido”

(Sentença condenatória)

 

 

A abolição da pena de morte em Portugal se deu em 1867. No entanto, a última mulher a ser executada naquele país foi Luiza de Jesus,¹ em 1772.

Na época, era comum a existência da Roda dos Enjeitados em entidades católicas, como a Santa Casa. Essa roda possibilitava que a mãe de um recém-nascido que não pudesse, sobretudo por questões morais, criar seu filho, fizesse a sua entrega para a adoção. A roda impossibilitava que a mãe fosse vista pela pessoa que atendia ao sino, dentro da entidade.

A Roda de Coimbra, da Real Casa dos Expostos, como era comum, fazia a doação de 600 réis e do enxoval da criança, para auxiliar a mulher que adotasse o exposto². (Cruz, 1967, p. 471).

Com o intuito de se apropriar dos 600 réis e mais do dinheiro obtido com a venda o enxoval, Luiza de Jesus, adotou, durante meses, “uns em seu nome, outros em nomes supostos”, 33 bebês (Cruz, 1967, p. 471).  Logo após a adoção das crianças, Luiza “desfazia-se delas, arrancando-lhes a vida ainda ténue: apertava-lhes o pescoço”. O estrangulamento se dava com uma tira de pano, que foi encontrada em sua posse, quando foi presa ao cometer o assassínio das duas últimas crianças que adotara, a pretexto de entregá-las para uma família. (Natário)

Embora lhe tenham sido atribuídas as mortes de 33 crianças, número de cadáveres encontrados, Luiza confessou 28 homicídios. Há também quem afirme que teriam sido 34 assassinatos, o que corresponde ao número de crianças adotadas. (Natário)

Foram achados cadáveres “debaixo das oliveiras, lá no alto do Monte-Arroio”, e, para aumentar ainda mais o horror do caso, também foram encontrados em “pote de barro vários pedaços de cadáveres corrompidos e fétidos, sem se poder divisar o seu número senão por três caveiras que nele estavam” (autos do processo).

No dias 1º de julho de 1772, aos 22 anos, Luiza de Jesus foi executada “com todos os requintes de crueldade ao tempo ainda em uso: atenazada com ferro em brasa, cortadas as mãos, garrotada e queimada.” (Cruz, 1967, p. 471)

 

¹ A opção foi pela grafia original, Luiza, que se vê na capa dos autos do processo, embora nos textos consultados a predileção seja pela forma Luísa.

² Exposto: “criança que foi abandonada pelos pais, ao nascer ou em tenra idade, e colocada na roda dos expostos; enjeitado” (Dicionário Houaiss)

Bibliografia

CRUZ, Guilherme Braga da. O movimento abolicionista e a abolição da pena de morte em Portugal (resenha histórica) in: Pena de morte: colóquio internacional comemorativo do centenário da abolição da pena de morte em Portugal. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1967, pp. 423-557

NATÁRIO, Anabela. Luísa de Jesus confessou ter assassinado 28 crianças. Talvez seja a única “serial killer” portuguesa. http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-09-19-Luisa-de-Jesus-confessou-ter-assassinado-28-criancas.-Talvez-seja-a-unica-serial-killer-portuguesa